Autor: João Paulo Meningue Machado
Graduando em Gestão de Políticas Públicas - EACH USP
José é um paulistano que se interessa por política; têm o hábito de acompanhar os jornais televisivos e, sempre que pode, lê notícias em websites informativos tradicionais. Desde criança José tinha vontade de conhecer Brasília e, principalmente, as instituições que lá estão, mais do que isso, ele também queria ver como é o Brasil fora de São Paulo, uma vez que nunca saíra do estado que nasceu.
Desta forma, embora tivesse recursos financeiros suficientes para ir de avião até a capital, decidiu que tiraria férias do trabalho e iria de ônibus à capital da sua pátria amada. Antes de discorrermos sobre as impressões e pensamentos que José teve no caminho, é importante elucidarmos sobre suas perspectivas gerais sobre o que é uma cidade, o que é ser um cidadão, o que é ser governo e o que é o Brasil. Para José, era claro que uma típica cidade brasileira - que deveria ser bem diferente da cidade de São Paulo-, provavelmente seria formada por um 80 mil habitantes, possuiria grandes fábricas, teria uma considerável malha viária, seus cidadãos se movimentariam, em suma, por veículos automotivos e, obviamente, uma parte dos cidadãos se encontrariam em situações insalubres de vida. Para José, cumprir o papel de um cidadão é ir às urnas de dois em dois anos, votar de maneira consciente e ser contra qualquer tipo de corrupção. Para isso, o dito cidadão deve acompanhar um jornal televisivo sobre sua cidade e outro sobre o seu país.
Embora pense bastante sobre o governo brasileiro, José não possui uma ideia clara sobre como um governante deve ser portar e de como ele deve conduzir sua administração. Ele tem plena consciência da existência de três poderes, isto é, poder executivo, legislativo e judiciário, sabendo de forma breve qual é a atribuição de cada um deles. O nosso herói acredita que o Estado tem o dever, de acordo como o estabelecido pela Constituição Federal de 1989 (algo que ele já escutou várias vezes na televisão), de prover alguns serviços básicos para a população brasileira, entre esses, os principais, no pensamento de José, são educação, saúde e segurança. Além disso, ele acredita que bons governos também demonstram suas qualidades através das obras públicas, como bom paulistano que é, embora ande de ônibus e metrôs lotados, adora viadutos e prédios grandes espelhados, sendo a capa da área de trabalho do computador dele a Ponte Estaiada de seu amado estado. Diante de toda esta estrutura de pensamento, José afirma que não é de direita nem de esquerda, também não gosta dos partidos brasileiros, entretanto, quer uma mudança na política nacional, pois acredita que a corrupção está encrustada no governo federal, além disso, é absolutamente contra o aumento de impostos por parte do governo, uma vez que ele acha que paga muito imposto, embora não pague imposto de renda, visto que seu patrão o registre na carteira com um salário bem menor do o que ele realmente recebe, isto é, José ganha por volta de R$4.000,00, mas é registrado com uma remuneração de R$1.500,00. Por fim, vale assinalar que o supracitado personagem quer a superação da crise econômica, mas não quer “pagar o pato” por causa do roubo e extrema incompetência do governo federal.
Com esse ideal político, José pegou um ônibus da rodoviária do Tietê, na cidade de São Paulo, com destino à capital da Nação. No inicio do deslocamento, ele olhou a cidade de São Paulo cheia de carros e passa por baixo da Ponte Estaiada, lhe vindo à mente o pensamento, “esta é a locomotiva do Brasil e o sinônimo de progresso e desenvolvimento”. Como o ônibus saiu no final do período da tarde, o nosso personagem admirou a paisagem inicial que percorreu, mas aos poucos não conseguia mais ver nada, então, decidiu dormir no ônibus. Por volta das seis horas da manhã do dia seguinte, quando já se encontrava no estado de Goiás, José acordou, a primeira vista levou um susto, pois passara ao lado de um vilarejo com casas mal construídas em situação precárias, com tijolos da parede amostra. Viu carroças e burros, carros velhos caindo aos pedaços, algo que quase não via em sua São Paulo. Rapidamente percebeu que aquela paisagem era uma constante pelos lugares que transpassara, o que se transformou em um choque para José. O que aconteceu com nosso herói foi a defrontação com a realidade nacional, embora tenha visto vez ou outra a pobreza dos nordestinos que “vivem lá nos cafundós de Judas”, foi um choque muito grande se deparar com aquele outro estilo de vida, de uma população em situação de vulnerabilidade social e econômica. A partir, desse momento, ele começou a mudar sua perspectiva sobre o que era o Brasil e a realidade da população brasileira. Ficou muito chateado ao ver aquele senhor magro, queimado de sol e com uma aparência humilde, vendendo algo que não soube o que era numa carroça, enquanto chicoteava e machucava o velho burro magro, que fazia grande esforço para puxar todo aquele peso. José ficou chateado com tudo aquilo, então resolveu voltar a dormir, voltando acordar já no ponto final da viagem.
Interior do estado de Goiás |
Quando chegou , pegou um ônibus e direcionou-se a um hotel da cidade. Colocou sua bagagem no estabelecimento e resolveu comprar algumas coisas num pequeno mercadinho localizado perto do hotel. Em seguida, perto da uma hora da tarde se direcionou à praça dos três poderes, mas rapidamente notou que os ônibus demoravam muito para passar e, quando chegavam, estavam muito cheios, esperou a passagem de dois ônibus para subir no terceiro. Nosso herói desceu três em uma via perto das praças dos três poderes, resolveu ir andando até local, começou a caminha e sentiu o inóspito ar da capital do país, passando por dificuldade para se adaptar aquele clima e para respirar. Impressionado com a situação, resolveu perguntar ao sorveteiro se aquilo era norma, ouvindo em seguida a resposta de que aquilo era absolutamente normal em Brasília, anormal era uma temperatura mais baixa do que os 35º e com um clima mais úmido. Diante dessa inusitada resposta, José pensou quais seriam os motivos da construção de uma capital da república naquele lugar. Por que fazer a capital da república em um lugar de clima tão inóspito? Após matutar por um bom tempo, lembrou-se da fala de seu professor do ensino médio que dizia que o real motivo para a construção de Brasília era o afastamento do poder central dos grandes centros populacionais do país. Agora, aquilo fazia sentido para José; como sair de São Paulo, ir até Brasília e fazer uma manifestação de um milhão de pessoas naquele lugar? Isso é impossível, então, essa construção se faz justificada.
Chegando à praça dos três poderes, José demorou eternos sete minutos para poder atravessar, uma vez que os carros vinham a toda velocidade e não paravam mesmo com vários pedestres pedindo passagem; os pedestres só conseguiram atravessar a rua quando houve uma folga no fluxo dos carros e eles correram para o outro lado, isso irritou José, por que não havia um semáforo naquela praça? Era preciso arriscar a vida para se locomover? Os motoristas não têm bom senso para parar e deixar os pedestres passarem? Finalmente chegou ao Palácio do Planalto, local de trabalho da presidente da república.
Palácio do Planalto |
Rapidamente, José percebeu que havia um grupo grande de universitários que também planejavam visitar o local. Curioso que é, nosso personagem começou a escutar um estudante falar para outro sobre um roteiro de atividades que eles iriam realizar no Distrito Federal. Além disso, escutou um monte de coisas sobre Educação Fiscal. Entendendo sobre o que tratavam os estudantes, José ficou interessadíssimo e perguntou se poderia participar de tais atividades aos estudantes. Estes indicaram que era necessário o aval do Professor Juca para essa participação. Assim sendo, nosso personagem foi conversar com o dito professor que ficou animadíssimo com o interesse e deu uma resposta positiva a José, dando, em seguida, um bloco de folhas que apresentavam os roteiros das atividades, prontamente lido e assimilado pelo paulistano. Desta forma, nosso herói foi visitar o Palácio do Planalto. Antes de entrar, porém, precisou escutar as recomendações do segurança do local. Algo nas indicações do segurança, contudo, chamou a atenção de José, o trabalhador afirmou que não estava ali para defender qualquer partido ou pessoa em si, mas apenas para defender aquele que representa o presidente da república do Brasil, o que deixou claro para quem ouvia o posicionamento de alguém que não gostava das ações da presidente e dela, mas, por ter que cumprir seu trabalho, a defenderia de qualquer ameaça com unhas e dentes. José pensou, “nossa, mas até aqui a presidente tem oposição?! A situação está feia para ela mesmo!”. Em seguida, uma das funcionárias começou uma apresentação que explicava algumas das características do Palácio do Planalto. Ela citou particularidades da fundação de Brasília e do Palácio do Próprio palácio, algumas reforçaram o conhecimento do paulistano sobre a capital do Brasil. A visita à sede do poder Executivo federal foi muito apreciada pelo nosso herói, mas alguns locais chamaram mais a atenção dele. O hall de entrada foi impactante. José sentiu uma sensação diferente ao se dar conta que estava dentro do Palácio do Planalto. Pensou, “eu estou no lugar em que as principais políticas públicas do Brasil são formuladas”. Notou que havia uma parede com retratos de todos os presidentes que a República Federativa do Brasil já teve, olhou e lembrou-se de quantas pessoas já comandaram o Brasil, pessoas que modificaram os rumos das vidas de milhões de cidadãos brasileiros, muitas dessas modificações foram boas, mas muitas outras foram péssimas e desumanas. José saíra triste daquele hall de entrada. Em uma das várias salas do Palácio do Planalto estava um documento que fora dito como muito importante, isto é, o termo de posse da presidente Dilma Rousseff. O paulista pensou sobre o que representava aquele documento e a importância dele para a história do Brasil. Por fim, eles adentraram na sala de trabalho do presidente do Brasil, contudo, não puderam circular por lá. José acreditava que isso era necessário, pois um mínimo de privacidade deveria ser garantida ao exercício do poder executivo.
Gabinete presidencial |
Após a visita ao Palácio do Planalto, a visita foi endereçada ao Palácio do Itamaraty. Embora tenha visto muitas coisas, essa visita não foi tão marcante quanto a anterior. José pensou a visita se caracterizara por seus detalhes históricos e pelas formalidades do local. Era estranho e coerente a normativa que impossibilitava o registro de fotografias dos locais internos do dito palácio. Estranho por que era algo muito bonito para ser mantido em segredo, mas coerente por se tratar de segurança nacional, uma vez que terrorismo e crimes de guerra sempre podem acontecer em locais de extrema importância para as relações internacionais entre nações. José ficou muito impressionado com os tapetes persas que foram dados pela rainha da Inglaterra ao imperador brasileiro. Contudo, algo o intrigou, o guia da visita pediu para que as pessoas tivessem bom senso e não pisassem no tapete, mesmo assim, Jose notou que inúmeras pessoas pisavam no tecido de certa simbologia para o aBrasil isso deixou-o indignado, pois o paulistano sentia que aquelas pessoas estavam destruindo algo que era dele.
Palácio do Itamaraty |
O planejamento para o dia seguinte exigiria muito de José, mas também o animava demais; teria de acordar antes das cinco para se encontrar no Palácio do Alvorada bem cedo. Assim sendo, nosso herói pegou um taxi e foi até seu hotel. Comeu e dormiu rapidamente. Cinco horas da manhã ele levantou, percebeu que estava atrasado, de maneira rápida se trajou e comeu. Em seguida, pegou um taxi e se dirigiu à residência atual de Dilma Rousseff . Ao chegar, as 05h50min, contemplou o nascer do sol por trás de um lindo Pinheiro localizado ao lado do palácio. Desta cena, José achou que uma série de comodidades são proporcionadas ao presidente, como um lindo local de trabalho, uma linda moradia e muita luxuriosa. Quanto custa as acomodações dessa pessoa para o brasil. Será que alguma outra pessoa mantida pelo estado tem tais regalias? Esse foi o pensamento de José. Depois de longas conversas com os estudantes, o paulista se dirigiu ao local onde fora realizado o desfile de 7 de Setembro. Havia uma longa fila para entrar na área em que o desfile seria realizado, além de um forte esquema de fiscalização sobre os expectadores.
Palácio do Alvorada |
Desfile da Sociedade Civil |
sociedade civil marchar, pois quem deve marchar são os militares, não a sociedade, esta anda, ao invés de marchar. Ainda assim, nosso herói ainda gostava muito do que via, adorou a miscigenação de representantes da sociedade civil, com seus mais diversos e belos trajes, desfilando para a apreciação do público.
A marcha militar também foi adorada pelos expectadores. O público ficou muito animado com a passagem dos cavalos e dos velhos combatentes de guerra. Entretanto, repentinamente, estrondos ecoavam atrás das arquibancadas do desfile, tratava-se de pessoas que estavam do lado de fora e gritavam palavras de ordem contra a presidente; o barulho era imenso, mas a ordem do desfile continuava. Isso aconteceu até dois manifestantes invadirem o ato, mas foram rapidamente presos. Os invasores usavam trajes militares e saldavam o desfile dos tanques de guerra. José discordou totalmente da ação dos manifestantes. Em primeiro lugar, nosso herói não gostou dos desfiles das armas, pois pensou que a única função de tudo aquilo era matar outras pessoas; e, em segundo lugar, José não se conformava por alguém saudar a instituição que governou o Brasil nos anos mais obscuros da sua história.
Aquilo fez o paulistano pensar sobre o que eram os manifestantes contra Dilma, ele havia ido a duas manifestações de forma impulsiva. Contudo, havia visto uma heterogeneidade de ideias, mas o perfil do público era o mesmo, pessoas de classe média, brancas e extremamente inflamadas. Para José, aqueles que se manifestavam em Brasília também tinham o mesmo estereótipo. Assim, seguiu-se o desfile e o paulistano ficou com isso martelando na cabeça.
Desfile Militar |
Foi para seu hotel descansar e, no período noturno, direcionou-se à Escola Superior de Administração Fazendária. Ao chegar, José assistiu a uma palestra sobre as atividades que seriam realizadas e um debate entre os visitantes sobre educação fiscal. A palestra foi ministrada por Fabiana Feijó. Ela discorreu brevemente sobre educação fiscal e, em seguida, propôs uma dinâmica para os visitantes, onde os foram formados dez grupos que deveriam responder dez questões (uma para cada grupo). Assim sendo, o grupo de José era formado por ele e estudantes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e da Universidade de São Paulo (USP). Em seguida, foram sorteadas perguntas para serem respondidas por esses grupos formados. A pergunta escolhida para o grupo de José foi sobre as mudanças na gestão pública que foram fomentadas pela lei de acesso à informação e o advento de novas tecnologias de informações que tinham como objetivo servir a população nacional para o acesso à informação. O consentimento do grupo para a formulação da resposta não foi difícil. Era claro para aqueles alunos, que explicaram a José que se tratava de uma lei em que os governantes deveriam disponibilizar as informações das ações das entidades que por eles são geridas, a fim de aumentar o accountabilibility promovido pela administração pública nacional, que as leis melhoraram as ações governamentais, mas muitos ajustes deveriam ser feitos, entre eles aqueles que fiscalizassem melhor a divulgação de informações pelos governos e entidades públicos, bem como a facilitação do desenho dessas ferramentas digitais que, para muitos, são muito difíceis de serem manuseadas. Ao fim da dinâmica, José voltou para o hotel e dormiu rapidamente.
A terça-feira também foi um dia longo para José, as atividades se concentraram em palestras expositivas na ESAF e na Universidade de Brasília. As exposições da ESAF trataram principalmente das características da dita escola. Na primeira parte da palestra, foi exibido um vídeo que abordava as características e importância da escola de administração fazendária. Ao saber que tratava-se de um lugar que promovia mais de 100 capacitações anuais, sendo, desta forma, a maior escola de governo do Brasil, e que o principal objetivo dela é a otimização das ações da administração pública, José ficou surpreso com a grandiosidade e importância da instituição. A palestrante começou a explanar sobre o Programa Nacional de Educação Fiscal (PNEF). O dito programa objetiva conversar com a população sobre a educação fiscal e questões tributárias. A estrutura do plano se divide nos Grupos de Educação Fiscal (GEF) que se dispõem nos três níveis de governo. Esses GEFs possuem uma pauta de ensino para os educandos da educação fiscal, mas a adesão ao dito plano é voluntária. Para finalizar a abordagem sobre o plano, a diretora diz que os recurso dele são escassos e, além disso, conta com parceiros como o Ministério da Fazenda, Controladoria Geral da União e o Ministério da Educação. A palestrante seguinte, contudo, falou mais sobre a questão da educação fiscal. Essa palestra deixou José um tanto quanto impressionado, pois ela incitou todos que estavam lá a agir e não serem só mais um dos pacatos cidadãos brasileiros, enxergando tudo pela tela da televisão e apenas criticando de maneira destrutiva as ações dos governos.
O diretor geral da ESAF, Alexandre Motta, contudo, realizou um discurso mais inflamado e tocante do que a sua predecessora, na perspectiva de José. A princípio, ele falou sobre o papel da escola da ESAF e das demais escolas de capacitações para a qualidade e funcionamento da administração pública de qualquer nível de governo. Entretanto, Motta centrou-se, em seguida, nas falhas existentes no funcionalismo público, resultando em uma demanda para o controle e melhoramento do funcionamento da máquina pública. Isso poderia ser feito através do orçamento participativo, que, na visão do palestrante, representa um instrumento de cobrança e interlocução com o governo. Ainda no âmbito de retornos que deve-se prestar à sociedade, Motta cobrou as Universidades Públicas como as que lá estavam. Ele acreditava que, em razão de serem sustentadas por recursos públicos, as universidades deveriam pautar seus debates no âmbito técnico-político e formular respostas diretas para os problemas que afetam nossa sociedade como um todo. José notou certa contrariedade dos estudantes que estavam lá; viu muitos deles rindo sarcasticamente e cochichando na orelha de outros. O paulista, entretanto, achou extremamente pertinente as primeiras colocações do diretor, pois José, que antes da palestra não tinha essa ideia tão clara e organizada em sua mente, julga que o fim de todos os serviços prestados ou sustentados pelo dinheiro público deve ser o bem estar da sociedade como um todo. Então, sim, os estudantes que estavam naquele auditório deviam um retorno à sociedade.
A parte final do discurso de Alexandre Motta demonstrou o descontentamento do palestrante sobre como é visto o emprego público no Brasil para aqueles que buscam ocupar o dito cargo. Em primeiro lugar, Motta teceu críticas sobre o comodismo de funcionários públicos no Brasil, afirmando que há uma miríade de encostados que não se preocupam com o produto final do serviço que é entregue a sociedade e, além disso, existem milhares de funcionários públicos que, por preocuparem-se só consigo, nunca chegarão ao nível de servidor público, sendo esse aquela pessoa que serve a sociedade e dá o seu melhor nos serviços para trazer mais benefícios ao seu patrão, isto é, a população brasileira. Os servidores públicos são muito bem vindos dentro da administração pública, contudo, conforme disse Motta, são cada vez mais raros. O palestrante afirmara que a ampla maioria dos que prestam concursos públicos e até mesmo aqueles que exercem o dito cargo o fazem apenas por causa da estabilidade e do alto solário, deixando de lado qualquer ideologia ou desejo de trabalhar para ajudar quem mais precisa, ou seja, a sociedade brasileira. Por fim, Motta fechou sua fala com um desabafo, se colocou como injuriado pelo fato de um cartaz que fala sobre a oportunidade de trabalhar no setor público abordar somente a estabilidade e os altos salários da área, sem citar em nenhum momento o ato de fazer algo pela população brasileira ou não ter como fim do seu serviço o lucro de um indivíduo ou um grupo de pessoas. O diretor geral da ESAF terminou seu discurso citando um exemplo da deturpação do funcionalismo público e fazendo um pedido aos ouvintes. O exemplo tratava-se de alguns servidores da ESAF que não são nada menos do que engenheiros formados pelo ITA, ou seja, o Estado Brasileiro despendeu grande quantidades de recursos para a formação técnica desses cidadãos com o objetivo para os mesmos tornarem-se profissionais que melhorem um quadro com defasagem de atuantes como é o caso da engenharia no Brasil, mas eles se encrustaram na máquina pública para ganhar altos salários e conseguirem estabilidade empregatícia, tornando-se dessa forma mais uns desses milhares de funcionários públicos acomodados. Motta pediu que os ouvintes não se tornassem mais uns desses milhares de funcionários públicos encostados e facilmente substituíveis, mas que virassem servidores públicos e fizessem com que a administração pública prosperasse como um todo e, consequentemente, atendesse às infinitas demandas de uma população que carece urgentemente de ajuda. A última parte do discurso mexeu muito com a cabeça de José, o paulista percebeu o problema conceptivo do serviço público, o que fazia com que os retornos dos servidores fossem aquém do esperado, ou seja, ficou claro para José que, uma vez que os benefícios que o serviço público proporciona a seus empregados são muito generosos, o fator que norteou e norteia a contratação de servidores públicos são os ditos benefícios, ou seja, o notável fim que se propõe a produzir a execução dos trabalhos da administração pública brasileira é colocado de lado e esquecido. Neste sentido, ficou claro que uma reforma estrutural é demandada para a melhoria dos serviços prestados. José começara a fomentar em sua mente a ideia de tornar-se um servidor público.
As palestras de terça-feira foram encerradas na ESAF e José deslocou-se até a Universidade de Brasília (UNB), onde aconteceriam as palestras restantes do dia. As exposições na UNB tinha um maior foco na saúde, não prendendo muito a atenção de José. Mas, ainda assim, uma vez que os expositores pertenciam ao importante ministério da saúde, nosso herói depreendeu importantes políticas e entraves da política nacional de saúde. Ao final das palestras, José encaminhou-se para seu hotel, lá comeu e dormiu. Estava exausto, mas, acima disso, muito pensativo, o que ele havia escutado até aquele momento martelava na cabeça dele e o fazia pensar em uma série de mudanças que deveriam ocorrer no seu país.
Assim como na terça feira, a quarta feira também se iniciou com palestras na ESAF e nosso herói se deslocou até lá para apreciá-las. O primeiro tema abordados interessava à José, tratava-se de uma parceria, firmada entre brasil e Alemanha, que consistia em trocas de expertise para o investimento que busca desenvolver a utilização de energias renováveis. Embora essa a parceira entre as duas nações já tenha sido mais frutífera, esse acordo é importante para os dois países que são exemplos da não poluição do meio em que vivemos. José enxergou tudo o que dizia o palestrante como o futuro, e se, na perspectiva de José, um postulante a cargos políticos não possuíssem um consistente plano sobre a maneira como tratamos o meio ambiente e a natureza, perderia seu voto.
O segundo palestrante, André Zemanov, objetivou a explicação de alguns dos trabalhos desenvolvidos por pelo instituto de pesquisas econômicas aplicadas (IPEA). José percebeu que não era o público alvo da explanação, os estudantes eram, uma vez que ou o palestrante foi até a ESAF para divulgar algumas das pesquisas desenvolvidas pelo instituto e também angariar apoio para futuros estudos junto aos possíveis colaboradores, isto é, os estudantes. Mesmo assim, nosso herói absorveu algumas informações e percebeu a importância do IPEA para as políticas públicas nacionais, uma vez que se trata de um núcleo de pesquisa que produz estudos que servem como base para a formulação, implementação e avaliação de intervenções públicas no âmbito social e econômico.
Ao sair da ESAF, as atividades se direcionaram ao hall de entrada do prédio central da Caixa Econômica Federal. A visita significou mais deslumbre com as diversidades brasileiras. O local detém por volta de vinte vitrais que representam quase todos os Estados do Brasil. José ficou maravilhado com as obras. Novamente, sentiu enorme orgulho de ser brasileiro, tirou fotos de todos os vitrais. Foi então que uma lembrança venho à mente do nosso herói, ele lembrou de sua origem nordestina – seus avós por parte de pai eram cearenses- e fez questão de tirar fotos em frente ao vitral que representava o estado do Ceará.
José em frente ao vitral que representa o Estado do Ceará |
Prédio central do Bacen |
Desenho exposto no Museu de Valores no Bacen |
José ficou perplexo quando entendeu o sistema. Não acreditava que as pessoas que já tinham tanto para si próprias podiam manipular o sistema político, a fim de impedir qualquer e forma do sistema tributário e continuar a formula de financiamento do estado pela camada mais pobre da população. O funcionário da Secretaria da Receita Federal demonstrou aos convidados que o imposto pago pela população volta, em tese, para ela através de serviços prestados pelo Estado, de tal sorte que sem esses serviços teríamos uma população mais pobre e um país menos estruturado, uma vez que o Estado brasileiro aplica uma série de políticas de proteção social. Assim sendo, embora a maioria da população veja os impostos pagos como um dinheiro perdido, a verdade é que os impostos pagos servem para o Estado organizar os recursos arrecadados e devolve-los a sociedade brasileira através de serviços fundamentais para todos os brasileiros e estrangeiros que aqui vivem. Em seguida, o palestrante formulou uma situação hipotética em que o Brasil precisasse de mais dinheiro, mas não pudesse aumentar os impostos sobre a população, diante desse contexto, Lindemberg perguntou aos visitantes como o país poderia angariar mais recursos sem pedir empréstimos ou vender títulos da dívida pública. Muitas pessoas tentaram responder a esse questionamento, mas ninguém conseguiu formular uma resposta cabível. Isso serviu para os ouvintes perceber como é difícil para o governo lidar com situações de dificuldade econômica e de arrecadamento de mais recursos para o cumprimento das funções que são de responsabilidade do Estado. A palestra foi encerrada com esse questionamento que deixou José muito pensativo. É muito difícil para o Estado lidar com uma população que o vê muitas vezes apenas com uma entidade que apenas subtrai recursos de si. Entretanto, o Brasil não é um país que paga muito imposto, sendo que os mais ricos, quando comparados com o montante total pago pelos mais pobres. Ficara claro para José que o Brasil precisava alterar essa situação injusta de desigualdades, mas como poderíamos fazer isso? José voltou para o seu quarto de hotel com essa dúvida martelando em sua cabeça.
Na quinta feita, as primeiras atividades se ocorreram na Universidade de Brasília, foram ministradas palestras que abordavam os direitos humanos e a participação social. O primeiro palestrante foi José Geraldo de Sousa Júnior, ex-reitor da UNB. A princípio o palestrante contextualizou a formação da UNB, lembrando fatos importantes da história da universidade, bem como da originalidade da instituição. Segundo Júnior, esta originalidade se baseia no fato da universidade ser voltar para questões da América Latina. Após levantar questões importantes sobre os direitos humanos e as universidades, tal como cotas e dificuldades de acesso às faculdades públicas, o palestrante encerrou sua fala e passou a palavra pra Talita Rampin. A segunda expositora objetivava a análise do tema de estudo Direito Achado na Rua. Trata-se de uma linha do direito que deriva dos movimentos sociais, ou seja, é através da atuação desses movimentos sociais que se constrói uma perspectiva de direitos das pessoas, o que resulta num saber mais crítico. Os adeptos dessa linha de direito acreditam que a política não deve ser feita apenas através da internet e das redes sociais, mas sim por meio da ocupação do espaço público, dos debates, do estudo aprofundado; de um corpo presente que pressione as instituições. Neste momento, José sentiu-se criticado, dado que o único meio que esta fazia política era através das redes sociais que participava. Contudo, nosso herói acatou as críticas, em função da percepção de que, historicamente, as mudanças políticas importantes só ocorreram via ações físicas dos que querem mudanças. “sim, a mudança só ocorreu com a ocupação do espaço público. Preciso agir me movimentar e sair de cima da cadeira do meu computador”, pensou José. Em seguida, houve uma demonstração do blog desse eixo do direito mantidos pelo palestrante, bem como os programas de pós-graduação que abordam o mesmo tema. As palestras foram finalizadas por volta do meio dia e os visitantes almoçaram em um restaurante universitário da UNB. Em seguida, dirigiram-se até à visita mais esperada por José, o Congresso Nacional.
Logo que chegou ao parlamento, José percebeu um princípio de confusão quando estudantes avistaram o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. O grupo abordou Cunha e disse para o deputado não ser “golpista”, algo que José concordou, visto que nosso herói via o Impeachment de Dilma Rousseff como um golpe de Estado. Houve uma enorme demora para entrar no Congresso e os estudantes se deslocaram a um dos estacionamentos da sede do Poder Legislativo. Contudo, o paulista percebeu os congressistas que lá passavam não gostavam da quantidade de estudantes que se encontravam no recinto. Todos eles aceleravam o carro e olhavam com um ar de raiva aos estudantes. Então, ao entrar numa conversa com um dos estudantes, José percebeu como era incabível aquilo. Aquele lugar é a casa do povo, aqueles que lá desempenham a função de parlamentar devem respeito aos eleitores, pois foram eles que os colocaram lá. O clima pouco amistoso não fez sentido para José e este ficou descontente com a situação. Finalmente, os convidados, após dura vistoria dos entrantes. Os convidados foram até a Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional para escutar a palestra do senador Telmário Mota (PTB-RR). A fala do Senador abordou a crise política e econômica do Brasil, em primeiro lugar, a fala enalteceu a função do parlamento, pois é o legislativo o maior representante da democracia para o senador. O que deixou José intrigado, por que o poder que melhor representa a democracia e o povo era o com menos credibilidade perante a nação? O paulista sabia que não acharia tão rápida resposta para essa questão, mas um novo posicionamento foi absorvido por José, aquele poder era o mais importante para ele, pois era principalmente nele que José era representado. Para Mota, a crise brasileira é muito mais política do que econômica, talvez em função da falta de credibilidade de que gozam os políticos brasileiros. Soma-se a isso uma falta de unidade nacional, fato que tornou-se mais aparente após a eleição da atual presidente. Essa falta de unidade, na perspectiva do senador, levou o Brasil à grave crise política que se encontra agora. Por fim, Mota afirmou que Dilma vive o que Getúlio Vargas viveu antes de suicidar-se, dependendo do ministro da fazenda, Joaquim Levy, para se manter no cargo. Ao escutar o discurso do senador, José ficou complexado e temeroso com relação à política nacional. Nosso herói não achava justo Dilma deixar a presidência, mas também via poucas saídas para ela, José percebeu como o sistema democrático do Brasil pode ser extremante forte ou fraco, pensou sobre a força que o ex-presidente Lula tinha no congresso e sua segura base aliada, agora, porém, tínhamos uma presidente sem voz no legislativo e uma base esfacelada. Em seguida, houve um embate entre uma estudante feminista e o senador. A estudante não gostou das palavras e frases profanadas pelo senador, rebateu as afirmações dele e disse que numa comissão de direitos humanos não poderia haver frases que reforçassem as desigualdades entre homens e mulheres, Mota, por sua vez, tentou rebater a estudante, mas acabou não respondendo às afirmações da garota. Após essa discussão, o debate foi encerrado e os estudantes foram convidados a conhecer o parlamento e suas instalações. José gostou muito da sala que expõe os presentes que o presidente da câmara dos deputados federais recebe.
Plenário da Câmara dos Deputados Federais |
José no plenário do Senado Federal |
Professor Marcelo Nerling (esquerda) e Vasconcelos (direita) |
A atividade seguinte foi a mais enriquecedora e prazerosa para José. As ações realizadas buscavam simular as atividades dos parlamentares em uma das comissões existentes. Em primeiro lugar, três temas polêmicos (liberação do uso da maconha, doações privadas para campanhas eleitorais e privatização das universidades públicas) foram dados a um grupo de 25 pessoas. Em seguida, foram eleitos um presidente e dois vices para esse protótipo de comissão. Posteriormente, o grupo de 25 pessoas foi dividido em três, onde um deles deveria ser o grupo relator, outro expositor e o último deveria tomar um posicionamento frente aos debates realizados entre os dois grupos anteriores. O primeiro tema deveria ser exposto, em seguida a relatoria tomaria uma posição e o último grupo deveria discordar da relatoria.
José na Comissão de Legislação Participativa |
Alunos na Comissão de Legislação Participativa |
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